REDAÇÃO – O caso do menino que cometeu suicídio em Lucas do Rio Verde após sofrer constantes ataques de bullying na escola municipal onde estudava ganhou mais alguns retoques que demonstram como o descaso do Poder Público e das pessoas envolvidas pode servir como estopim para um desastre familiar e social.
Áudios atribuídos ao estudante que chegaram à redação do jornalismo A VOZ Mato-grossense de maneira anônima indicam que o menino chegou a pedir auxílio a uma professora para que ela interviesse em seu favor contra um monitor da escola. Apesar do pedido, no entanto, outro áudio feito pelo menino indicam que sua solicitação não foi atendida.
No primeiro áudio atribuído a Kauã, pode-se ouvir:
“Profe (SIC), eu preciso falar só com a senhora. Eu não quero que a senhora fale nem para o Leandro, o monitor... eu não gosto dele”.
No segundo áudio, verifica-se que o pedido do menino foi negligenciado:
“... mas você não falou nada para ele hoje a hora que ele fechou a porta na minha cara, né... que eu pedi para não falar”
PEDIDO DE SOCORRO DE UMA MÃE – Em outras imagens entregues ao jornalismo A VOZ Mato-grossense, atribuídas à mãe de Kauã, verifica-se que há um pedido de socorro prévio feito diretamente a uma professora sobre o caso de bullying que o garoto vinha sofrendo dentro da escola Olavo Bilac.
Conforme a conversa, mantida pelo Whatsapp, a mãe diz à professora:
“Professora, eu preciso da sua ajuda pra colocar o Kauã num reforço. Ele tá sofrendo bullying na escola pelo fato de ser lento e não conseguir aprender algumas coisas... ele me relatou que pensa até em suicídio... tô muito aflita”.
Em outro trecho, a mãe desabafa: “E queria mesmo mudar ele de sala. Ele tá muito mal, voltou pra psicóloga (...) Ele chorou muito, tá muito aflito (...) falam que ele é burro, que não querem ele perto (...) que a sala vai perder o primeiro lugar de melhor por causa dele”.
A professora chega a pedir que ele seja levado ao AEE e diz: “estamos conversando em todas as salas de aula. Está geral esse comportamento da maioria dos adolescentes”.
BOLETIM – Outro indício de que o pequeno Kauã foi negligenciado por pessoas que deveriam zelar por seu desenvolvimento intelectual e social é seu boletim escolar (imagem abaixo), também entregue à redação do jornalismo A VOZ Mato-grossense.
Segundo este documento, o estudante apresenta elevado número de faltas em disciplinas como Língua Portuguesa (20), Matemática (11), e Educação Física (11), mas de acordo com as denúncias apresentadas ao jornalismo A VOZ Mato-grossense, em momento nenhum a direção da escola municipal ou a Secretaria Municipal de Educação adotaram medidas para reverter o quadro de bulliyng que Kauã sofria dentro da instituição.
DENÚNCIA DE OUTRAS MÃES – Após o caso de suicídio de Kauã se tornar público, outras mães usaram as redes sociais para denunciar que os casos de bullying dentro das escolas públicas de Lucas do Rio Verde.
Em uma das manifestações, a mãe diz: “Por isso sou bruta se alguém mexer com minhas filhas e já tomo logo autoridade por conta própria. Minha filha já sofreu muito com isso depôs (SIC) de um barraco é logo ameacei quem tava fazendo isso com ela e logo parou. Sei que não é fácil o que você tá passando”
Outra aponta o dedo diretamente para os responsáveis pela escola: “Eles sempre falam ‘mãezinha, a gente tá cuidando’ ... eu tenho um filho que estuda eu sei o que ele passa na escola. Os amiguinhos chamando ele de cabeça rachada devido a cirurgia dele... chamando de autista... e você vai na escola a culpa é sempre dele. Os professores só sabe reclamar dele porque resto é um anjo até o dia que eu perder a paciência.
O relato de uma terceira mãe confirma a queixa sobre negligência funcional dos servidores: “No ano passado minha filha tava sofrendo intimidação de uma assistente da escola. Minha filha tava com problemas de saúde e por conta das faltas ela falava que minha (filha) iria ser tirada da família ia para um abrigo e nunca mais ia olhar os pais dela se ela continuasse faltando aula”
A quarta mãe denuncia agressões à sua filha feitas dentro do ambiente escolar e a inépcia dos responsáveis: “hoje mesmo minha filha veio chorando porque dois meninos bateram nela. Amanhã vou na escola... se eles não dê um jeito nisso... porque não é a primeira vez.
CRIME CONTRA A SOCIEDADE – O sociólogo Sonir Boaskevicz, em entrevista ao jornalismo A VOZ Mato-grossense, explica que, além de ser um fator desagregador da comunidade escolar, a prática do bullying, quando não combatida pelos responsáveis pela unidade educacional podem ser enquadrados em dois casos pela legislação vigente no Brasil:
“Além de desagregar o tecido social da comunidade educacional, a falta de atenção ao combate efetivo da prática do bullying dentro das escolas pode acarretar a todos os responsáveis enquadramento na legislação brasileira. O primeiro caso é a desídia, que diz respeito à conduta reiteradamente negligente de um ou vários servidores públicos; o segundo caso é o da prevaricação, que acontece quando estes servidores deixam de cumprir com suas obrigações funcionais quer seja para atender a interesses particulares, quer seja para encobrir erros de colegas”.
NÚMEROS – Segundo dados divulgados pela ABRACE levantados pelo pesquisador Cauê Martins, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 38% (28 mil unidades educacionais) das escolas brasileiras enfrentaram problemas de bullying apenas em 2022, com prevalência de casos nos estados de Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Apenas em São Paulo 347 escolas afirmaram ter registrado “várias vezes” ameaças ou ofensas verbais na unidade.
Mín. 21° Máx. 32°
Mín. 21° Máx. 37°
Chuvas esparsasMín. 22° Máx. 38°
Chuva